Como
definir a orientação didática no projeto político-pedagógico?
A função primordial
da escola é possibilitar a seus alunos o acesso ao conhecimento
escolar.
Para isso, o conhecimento disponível é esquematizado,
reestruturado, segmentado, simplificado, reconstruído, como meio de
promover a sua apreensão pelos alunos. O trabalho escolar, portanto,
é uma transposição
didática do conhecimento formal em conhecimento escolar.1[1]
Assim, o professor é,
de fato, um mediador
na interação dos alunos com os objetos de conhecimento. A
orientação didática que assume e os métodos que utiliza têm,
pois, como finalidade, estimular a compreensão, generalização,
transposição e aplicação de conceitos em situações diversas, de
modo a permitir a solução de problemas, o levantamento de questões,
a avaliação dos resultados de suas ações e a reconstrução do
conhecimento em outros níveis – ou seja, promover a
aprendizagem.2[2]
Contudo, não é isso o
que vem ocorrendo na escola básica no Brasil. A má qualidade de
formação do professor brasileiro3[3]
não lhe fornece as condições para o exercício pleno do seu
ofício, que é o de promover a aprendizagem dos seus alunos. Estudos
realizados recentemente no Brasil sobre o cotidiano da sala de aula
mostram, além da própria pobreza material e física das salas, o
predomínio de práticas
educativas rotineiras, repetitivas, centradas no professor
e que utilizam a escrita pelo aluno (deveres de casa, cópia,
exercícios escritos no caderno etc.) mais como um mecanismo de
controle da disciplina do que como instrumento de efetiva
aprendizagem. A própria organização
da sala de aula,
com a disposição das carteiras escolares em fileiras, revela a
opção metodológica predominante entre os professores. A ausência
de material didático
rico e diversificado e a falta
de conhecimento aprofundado dos conteúdos que ensina
levam o professor, na maioria das vezes, a recorrer a práticas
tradicionais e a banalizar a importância das atividades e das
rotinas escolares.
Diante disso, é
preciso que a equipe gestora, junto com a equipe escolar, discuta as
opções didáticas4[4]
a serem assumidas, promovendo os meios para que sejam postas em
prática. Para isso, há, hoje, um conjunto de princípios
educativos5[5]
que vêm orientando as práticas pedagógicas contemporâneas. Veja
alguns desses princípios:
* Considerar
o aluno como sujeito de sua própria aprendizagem.
* Reconhecer
que o conhecimento é construído, progressivamente, através da
atividade própria do aluno e também através das interações
sociais, isto é, de aluno para aluno e entre o professor e os
alunos.
* Superar
a fragmentação do saber dividido em disciplinas, enfatizando a
interdisciplinaridade dos conhecimentos e a construção integrada
de saberes, competências e valores que perpassam, de forma
transdisciplinar, o conjunto do saber-fazer escolar.
* Tomar
as experiências e vivências do cotidiano do aluno como ponto de
partida para as novas aprendizagens escolares.
* Organizar
o trabalho escolar em torno de atividades que proporcionem o
prazer de conhecer, o desejo de descobrir e de fazer e que
estimulem o aprender a aprender.
* Respeitar
a diversidade dos alunos, como pessoas e como membros de um
determinado grupo étnico-cultural e socioeconômico.
* Estimular
o desenvolvimento da autonomia do aluno, da sua participação na
construção da vida escolar, através do incentivo ao trabalho em
grupo e à aprendizagem cooperativa.
|
Como esses princípios
podem ser concretizados na prática? Os Parâmetros Curriculares
Nacionais para o Ensino Fundamental destacam algumas formas de
concretização desses princípios. São eles:
A autonomia
pode-se concretizar no trabalho em sala de aula, através de
atividades que permitam ao aluno posicionar-se,
elaborar projetos pessoais e participar enunciativa e
cooperativamente de projetos coletivos, ter discernimento,
organizar-se em função de metas eleitas, governar-se, participar da
gestão de ações coletivas, estabelecer critérios e eleger
princípios éticos,
entre outros aspectos.
O respeito
à diversidade
tem a
ver com o direito de todos os alunos realizarem as atividades
fundamentais para o seu desenvolvimento e socialização. Sua
concretização em sala de aula significa levar
em conta fatores sociais, culturais e a história educativa de cada
aluno, suas características pessoais de déficit sensorial, motor ou
psíquico, ou de superdotação intelectual, dando-se
especial
atenção ao aluno que demonstrar a necessidade de resgatar a
auto-estima.
O trabalho
diversificado consiste
no uso de diferentes exercícios, atividades, tarefas por grupos de
alunos ou pequenos projetos, que vão permitindo a inserção de
todos no trabalho escolar, independentemente dos diferentes níveis
de conhecimento e experiência presentes entre os alunos de uma mesma
classe. O princípio
que deve orientar essa opção é o de que
todos os alunos são capazes de aprender, cada um no seu ritmo
próprio e a partir de pontos diferentes, desde que lhe sejam dadas
às condições para que isso ocorra.
A interação
e a cooperação
são princípios subjacentes à aprendizagem dos conteúdos escolares
e à aprendizagem de formas
de convivência escolar e social6[6].
Para sua concretização, a escola e os professores devem criar
situações em que os alunos possam
aprender a dialogar, a ouvir o outro e ajudá-lo, a pedir ajuda,
aproveitar críticas, explicar um ponto de vista, coordenar ações
para obter sucesso em uma tarefa conjunta.
A seleção
de material
deve ser variada e cuidadosa. Todo
material é fonte de informação, mas nenhum deve ser utilizado com
exclusividade.
A escolha do livro didático pelo professor deve ser criteriosa e
estar vinculada com as suas opções metodológicas. Além dos livros
didáticos dos alunos e dos livros de literatura infanto-juvenil7[7],
o professor deve recorrer a materiais
diversificados como jornais, revistas, folhetos, propagandas,
computadores, calculadoras, filmes, etc., que fazem o aluno sentir-se
inserido no mundo à sua volta.
Não se pode perder de
vista que as escolas devem ter autonomia para desenvolver o
pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, conforme
expresso no art. 3º, inciso III da LDBEN, quando se refere aos
princípios e fins da educação nacional. Isso deixa para a escola
um espaço de criatividade, iniciativa e experimentação que pode
ser desenvolvido durante a construção, implementação,
acompanhamento e avaliação de sua proposta pedagógica.
Pense
com os seus botões: o que impede um grande número de professores
de adotar esses princípios na sua prática pedagógica?
http://www.moodle.ufba.br/mod/book/view.php?id=14550&chapterid=10918
|
1[1]
Pode-se, portanto, pensar o conhecimento escolar como uma
transposição prática do currículo formal que, por sua vez,
inclui uma transposição didática, entendida
como o acabamento, a transformação a que se sujeitam os saberes,
as práticas sociais ou, mais globalmente, a cultura, para poder
ensiná-las e avaliá-las na aula.
(PERRENOUD, Philippe. Op. Cit. p. 21.)
2[2]
Além
de favorecer aquelas aprendizagens consideradas tradicionalmente
escolares, a escola deve organizar, seja no interior da sala de
aula, seja fora dela, situações, tarefas, atividades, que
facilitem a vida em comum, que ajudem os alunos a criar um sentido
de ordem, de uso significativo do tempo e do espaço, a desenvolver
um espírito de cooperação e de solidariedade e um sentimento de
pertencimento aos seus grupos de convivência.
3[3]
Por outro lado, aos professores só chegam os bafejos das concepções
contemporâneas de educação, seja nos cursos de formação
inicial, seja nos de formação continuada. Seus depoimentos a
respeito desses últimos cursos indicam, inclusive, que eles
percebem a necessidade de abandonar as formas tradicionais, mas o
tempo do curso não é suficiente para o aprofundamento das novas
idéias e sua conseqüente transposição para a prática na sala de
aula. Aqui, vale ressaltar a importância de um bom acompanhamento
do trabalho do professor e sua formação continuada, através de
grupos dirigidos de estudo, no âmbito da própria escola.
4[4]
Isso não se faz apenas com seminários pontuais ou com a realização
das convencionais semanas pedagógicas promovidas no início de cada
ano letivo. Demanda tempo, persistência, estudo e dedicação.
Demanda, sobretudo, condições de trabalho, que as equipes gestoras
devem continuamente buscar, para que o professor possa se dedicar ao
seu verdadeiro ofício: promover a aprendizagem dos seus alunos.
5[5]
Segundo Perrenaud, quando a escola não reconhece a diversidade
presente na sala de aula, quando pratica a indiferença pelas
diferenças, ela transforma essas desigualdades de ordem
extra-escolar em desigualdades de aprendizagem, logo, em sucessos e
insucessos. (PERRENOUD, Philippe. op. cit. p. 34.)
6[6]
Para que esse aprendizado ocorra de fato, é preciso que o professor
esteja comprometido com esses princípios e tenha disponibilidade
para aceitar contribuições dos alunos (respeitando-as, mesmo
quando apresentadas de forma confusa ou incorreta) e para favorecer
o respeito, por parte do grupo, assegurando a participação de
todos os alunos.
7[7]
A equipe gestora deve estar atenta a dois programas importantes do
Governo Federal, referentes às políticas públicas dirigidas à
escola: o PNLD – Programa Nacional do Livro Didático e o PNBE –
Programa Nacional de Biblioteca Escolar.
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